quinta-feira, 12 de março de 2009

Sobre o exercício de princípios

Um drama como o desta menina de 9 anos, estuprada pelo padastro, é uma realidade que fere à todos nós. A violência física e psicológica que esta criança sofreu são absurdas. O fato de o agressor ser uma pessoa da família ressalta a violenta na sua dimensão moral. Fere a dignidade mais essencial. Com ela, toda a família, toda a sociedade se sente atingida. E o drama se estende. A menina não só é violentada, mas engravida.

A decisão de optar pela vida da menina ou dos gêmeos é um drama em si. Não discutimos agora apenas o estupro, mas também um aborto. Um estupro é uma violência imediatamente condenável. A vitima é concreta. Um aborto, nem tanto. Se não vemos e ouvimos a vitima, devemos nos preocupar com os seus direitos?

Refletir sobre questões tão duras e ao mesmo tempo imateriais é um desafio para a nossa humanidade. O certo não é fácil de ser determinado quando nos deparamos com realidades tão chocantes. A família que tomou a decisão sobre o aborto o fez para proteger a menina agredida. Sua intenção é neste ponto, inquestionável. O detalhe que impede que seja indiscutível e justa a decisão tomada pelos médicos e pela família é a existência de duas outras crianças, também inocentes. De fato, não só inocentes, mas completamente indefesas. Elas não falam, não dividem suas emoções, não tem voz.

A sociedade moderna, convencida de sua imparcialidade racional, tende a desprezar o invisível. Ao mesmo tempo, acreditamos que a sabedoria se acumula ao longo da historia, que a experiência é base para a evolução. Seu contraponto é o antigo, o conservador, que julgamos imediatamente como “o errado”. Presumimos por exemplo que o século XX é superior ao XIII. Entretanto, terá Paulo Coelho se beneficiado de todo o conhecimento produzido nestes séculos desde Dante? Será um “O Alquimista” superior à uma “Divina Comedia”? Esta nossa presunção de superioridade histórica é um argumento para fazermos uma revisão de conceitos.

Nós cristãos, tocados pela tragédia desta família em Pernambuco, alimentamos nossa esperança em valores que atravessam o tempo há dois mil anos. E estes valores são simples. O Cristo se auto define como “o Caminho, a Verdade e a Vida”. O caminho é um percurso de erros e acertos, mas sempre com uma direção definida. A direção é a Verdade e a Vida. A Verdade é o fundamental, a realidade inteira e plena, não apenas o visível e o que mutável ao longo do tempo. A essência que gera. Este é nosso compromisso como cristãos. Podemos errar, pois nossa natureza humana é essa, errar e corrigir o erro. Mas não podemos estar em outro lugar se não aquele que defende a vida. Ai está a coerência do nosso caminho.

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