domingo, 4 de abril de 2010

Impressões sobre Munch

A arte como a religião pretende estar entre o material e o imaterial. E como também acontece com a experiência religiosa, a experiência da arte expande nossa consciência do mundo.
A arte de Munch despertou o influente mecenas Albert Kollman, justamente pela sua expressão mística. Aos olhos de Kollman, Munch transpassa o material e diz o que a alma intui.
A exposição sobre Munch  hoje na Pinacothèque de Paris é um panorama bem montado sobre este pintor da Noruega que viveu entre 1863 e 1944 e é conhecido por um quadro: O Grito.  Agora somos convidados a ir além do clichê reducionista e conhecer um artista com outras cores, outros temas.
Curioso pensar que Munch esteve em Paris para ver a exposição universal de 1889, a grande exposição da Torre Eiffel. Que grande Paris esta do século XIX, transbordando em riqueza, contrastes, uma cultura que nos marca ainda hoje.
O fato de a maioria das obras expostas terem vindo de coleções particulares, de uma certa forma ressalta que estamos vendo um Munch novo para o grande público. Dentre os colecionadores que abasteceram esta mostra, a família Epstein é um nome recorrente nos créditos. (Em 1990, uma exposição no National Gallery de Londres, com 94 impressões de Munch da Coleção Epstein)

Vendo as obras
Que viagem! Uma dos primeiros quadros que me chamou a atenção foi Jeune pecheur de Nice, um pastel pintado em 1891. A técnica do pastel é elaboradíssima. O efeito de sutileza e calma.
Sua visão da mulher também é interessante. Vários quadros representam o feminino em diferentes fases da vida; a virgem, a mãe, a anciã. Ou a virgem e a morte. Ou a mulher voluptuosa.
Uma série de litogravuras chamada Madone que ele fez entre 1895 e 1902 compõem um espectro de tons psicológicos femininos. Talvez o quadro de maior destaque na exposição seja o Nu pleurant; feminino, emocionante.

Embora longe dos movimentos artísticos que aconteciam em Paris, no fim do século XIX, Uma exposição em Berlin de Munch em 1892 provoca escândalo. A critica diz que seus quadros são rascunhos.
Pelo pouco que conheço dos nórdicos, meus preconceitos, traçam um povo frio, severo. Munch tem um olhar triste em Garçon de Warnemunde. pintado em 1907.
Um quadro em particular me lembrou Matisse pela sua composição diagonal e elementos um tanto gráficos.  Um tapete em especial.
Melancolie de 1920, tem olhos negros e me remetem a tempos de grande turbulência na Europa. Talvez o momento da grande guerra.

Grandes artistas nos conectam com o real. Mergulhar neste intangível, usando as ferramentas de nossa razão e os olhos fecundos da imaginação.

Outras visões:
Edvard Munch et son rapport avec les femmes
Munch où la passion du tourment

Um comentário:

  1. Ao ler o seu texto me senti frente às obras do Munch. Muito bom. Você conseguiu transmitir toda a sensibilidade contida em cada nuance de cor, traço e vibração. Parabéns. As sensações que constróem cada um dos 'personagens' de Munch nos transporta mesmo pra uma dimensão jamais imaginada da mente humana. Agústia, depressão, desespero, morte... uau! Também, pudera, ainda pequeno Munch perde a mãe e uma irmã, enquanto uma outra se agrava em distúrbios mentais e o pai mergulha no fanatismo religioso. Já adulto, apresenta um perfil psicológico bastante conturbado e acredita-se que ele possuía transtorno bipolar. Talvez, todo esse panorama tenha contribuído em muito para a concepção e profundidade de sua obra, tornando-o um dos artistas responsáveis pelo movimento expressionista na Alemanha. Como diria Tom Jobim, 'ele era um craque'.

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